quinta-feira, 1 de maio de 2008

Considerações e Reflexões Sobre Alimentação da Criança no 1º Ano de Vida

A dieta normal no 1º semestre de vida é constituída por um único alimento:
O leite da própria mãe oferecido em regime de livre demanda.

Aleitamento
Cabe ao pediatra estimular, apoiar e orientar a amamentação.O pediatra precisa ter uma atitude de empatia (= sintonia com as dificuldades, dúvidas e problemas enfrentados pela mãe que amamenta) e não apenas de simpatia ("amamentar é bom para a criança, tenha paciência que tudo vai dar certo").
O pediatra precisa doutrinar o marido e toda a família trazendo-os como aliados da amamentação. Cabe ainda ao pediatra ter respostas para as dúvidas (ciência da lactação) e a solução aos problemas (prática da lactação) e vigiar com atenção redobrada o período crítico da amamentação, que são as duas primeiras semanas.

Na impossibilidade da amamentação, no caso de ser usado leite artificial, prescrever as fórmulas (leites em pó modificados e industrializados), as quais seguem as normas do Codex Alimentarium e têm a aprovação unânima das autoridades médicas internacionais e que incluem o prestigioso Comitê de Nutrição da Academia Brasileira de Pediatria e o Departamento de Gastroenterologia da SBP.

Nos últimos tempos, temos observado uma tendência a usar o leite integral em pó ou in natura nos lactentes no 1º ano de vida.
Isso representa um retrocesso de mais de meio século. Foram exatamente os problemas que essas crianças apresentavam com grande morbidade e alta mortalidade que motivaram os geniais pediatras da velha guarda a pesquisar e modificar todos os componentes do leite de vaca, alterando quantitativa e qualitativamente proteínas, gorduras, hidrato de carbono, vitaminas (com acréscimo de vitaminas A, C e D) e sais minerais (particularmente ferro, e acertando a relação Ca/P), até chegar às fórmulas atuais ainda em evolução.Paradoxalmente essa tendência ao uso do leite de vaca integral tem ocorrido tanto nas camadas socioecônomicas baixas (possivelmente questão de custo) como nas altas (às vezes por modismo ou influência da mídia).
Cabe ao pediatra esclarecer que o leite de vaca integral não atende às necessidades atuais em risco à saúde que se proteja para o futuro. A atenção deve estar especialmente voltada para fórmulas de custo menor quando isso for um fator limitante, lembrando que ela não necessita de nenhum complemento vitamínico mineral.
Casos
Dois casos recentes ilustram o que dissemos. O primeiro é de uma criança pobre que tomou leite de vaca desde o nascimento e sempre como alimento predominante; aos 9 meses de idade, uma anemia grave exigiu internação e transfusões.O segundo caso é de uma família de excelente nível socioeconômico-cultural.
Vi a criança aos 7 meses, peso e aspecto bons mas um pouco pálida. O pediatra antroposofista proibira carne na sopa e recomendara desde o desmame (que foi bastante precoce) um leite de vaca integral, da fazenda, "natural", e não um desses leites artificiais, "industrializados". Orientei a mãe e pedi um exame hematológico. Mas a família mudou de São Paulo e perdi contato.Aos 11 meses, revi a criança que estava pálida, abatida, com retrocesso do desenvolvimento motor e intelectual; inapetência progressiva, deixando de aceitar outros alimentos para tomar apenas o leite de vaca integral tipo A que continuara. Hematológico comprovou anemia ferropriva grave que foi corrigida lentamente com ferro, medicamento e alteração alimentar. São sois casos extremos mas didáticos para nossa reflexão e bom senso.